2. O Confronto, O Cartógrafo e a Luz
A câmera abre com uma visão baixa e lenta da floresta enevoada. Os galhos, retorcidos como dedos esqueléticos, balançam ao sabor do vento gelado. Vozes sussurradas surgem no fundo — não entendemos o que dizem, apenas sentimos a tensão. A câmera se aproxima do acampamento improvisado dos sequestradores, onde uma carroça coberta e três tendas mal armadas indicam uma estadia curta, talvez apressada.
Nos arbustos ao redor, sombras se movem. A câmera nos leva até os rostos tensos dos aventureiros: olhos atentos, respirações contidas. Eda Brutgenn fareja o ar, literalmente, seus músculos prontos para ação. Rhydian Greyheart toca os dedos uns nos outros, faíscas surgindo brevemente, como se sua magia respondesse antes mesmo de seu comando. Balduin Slyherz segura firme a guitarra às costas, olhos atentos, sussurrando algo que soa como um plano — ou talvez apenas hesitação.
Mas os sussurros não passam despercebidos.
A câmera corta para dentro de uma tenda. Um homem de capuz ergue a cabeça.
"Tem algo lá fora", ele diz com firmeza baixa. Outro sequestrador se levanta, coloca a mão na empunhadura de sua espada. “Investiguem.” A ordem sai com precisão. A tensão quebra. A oportunidade nasce.
Corte brusco para Eda irrompendo da vegetação como um furacão. A câmera balança com o impacto. Um dos sequestradores sequer tem tempo de reagir antes de ser jogado contra a árvore mais próxima. O rugido de Eda é abafado apenas pelos acordes de Balduin, que, agora em campo, transforma o caos em ritmo — e, com isso, coragem. Seus dedos deslizam pelas cordas, lançando notas que parecem revestir os aliados em aço e empurrar os inimigos para trás.
Enquanto isso, Rhydian levanta as mãos e uma rajada gélida sai descontrolada. O feitiço não sai como ele esperava, mas acerta com precisão. Outra magia. Outro lampejo. Ele para por um segundo, olhos arregalados — e sorri. Há algo novo queimando dentro dele. Ele entende cada vez menos, e ainda assim, sente-se mais completo do que nunca.
A luta vira. Um a um, os sequestradores caem. Quando a poeira baixa, dois permanecem: o líder, encapuzado e ainda em posição de combate, e um comparsa que já vê o inevitável. O segundo corre para a carroça, toma as rédeas e foge — chicoteando os cavalos enquanto grita. O líder tenta alcançá-lo, um grito de raiva escapando de seus pulmões.
Mas Rhydian estende a mão.
A terra o obedece.
Do chão, mãos de pedra irrompem e o agarram pelas pernas, puxando-o de volta. O grito se torna gemido. Ele está preso.
Corte para Kaelis Ygrinn, ainda amarrado, sendo libertado pelos heróis. Eles não dizem muito. As perguntas podem esperar. O silêncio entre eles carrega mais do que alívio — carrega propósito.
A próxima cena mostra o sequestrador amarrado em um dos troncos retorcidos. A câmera gira devagar em volta do grupo, à medida que as perguntas são feitas. A câmera fecha nas mãos do homem: nelas, uma marca — o símbolo do Paradoxo Austero, queimado na pele.
“Sim,” ele diz entre dentes. “Trabalhamos para eles. Não sei o motivo. Só recebi as ordens.”
A câmera corta para Rhydian. Frio. Determinado. O feitiço forma em seus dedos.
O líder sequer tem tempo de implorar antes da Faca de Gelo ser lançada. Silêncio. Um corpo tomba.
Kaelis é então o foco. A luz da fogueira balança sobre seu rosto, projetando sombras marcadas. Seus olhos viram mais do que muitos anciãos.
“Eu tenho contato com o Círculo da Última Luz”, ele diz, olhando para o espaço vazio entre os aventureiros como se Lyria devesse estar ali. “Ela me recrutou. Achei que fosse apenas um esforço simbólico... mas agora...”
Os heróis se entreolham. Círculo? Nada disso fazia parte da missão.
Ele continua, hesitante: “Eles lutam contra o Paradoxo. Dizem que eles... que eles querem manipular os poderes antigos. Mas eu não sei o que meus mapas têm a ver com isso.”
Balduin, ainda com a adrenalina da batalha, vasculha os pertences do líder abatido. E encontra o mapa.
Corte para o exterior da cabana. A câmera mostra Balduin ao luar, com o mapa aberto. As estrelas e a lua desenhadas em seu verso parecem pulsar. De repente, linhas verdes, translúcidas, vivas, começam a se mover sobre o papel — um balé de luzes etéreas. Elas convergem acima de um nome: Hutepec.
Os outros se aproximam. Kaelis explica, apontando para o mapa: “Eu usei um cristal da Garganta do Lobo Branco. Ele... ele reage à presença das laylines. As Linhas dos Ecos da Criação. Mas eu não entendo por que isso é importante para o Paradoxo...”
Eda pega o cristal que Kaelis carrega consigo. Ele brilha fracamente em sua mão. Uma conexão silenciosa se estabelece.
Montados em cavalos, os aventureiros seguem pela trilha gélida. Kaelis aponta para um símbolo cravado em uma árvore: um círculo em torno de uma chama quase apagada.
Corte para o interior da casa segura. Lyria os espera. A luz da lareira dança atrás dela, moldando sua figura como se o fogo a respeitasse.
“Bem-vindos,” ela diz com um leve sorriso. “Imagino que agora vocês tenham mais perguntas que respostas.”
Ela continua, andando devagar pelo cômodo, cada passo ecoando com propósito: “O Círculo da Última Luz não é um exército. Somos uma ideia. Fragmentada, dispersa, mas viva. Lutamos contra o avanço do Paradoxo Austero, contra seu desejo de reunir as peças da Relíquia de Tawa. Vocês talvez não conheçam esse nome, mas há quem diga que quem possuir todas as partes da Relíquia, carrega o direito divino ao trono.”
A câmera corta para o rosto de cada um dos heróis, um a um. A dúvida. A responsabilidade. A fúria. A curiosidade.
“Eles querem desequilibrar o mundo,” continua Lyria. “E vão usar qualquer meio. Por isso vocês devem seguir para Hutepec. Há algo lá. Algo ligado às laylines. Ao poder que querem despertar.”
Ela para diante da lareira, olhando as chamas por um segundo. “Vocês vão precisar cruzar a fronteira. E pra isso, procurem por um homem: Darek 'Rastro-Partido' Thuell. Ele saberá como guiar vocês.”
A chama baixa.
“Descansem esta noite. Amanhã... o mundo começa a mudar.”
Corte para preto.
Silêncio.
Fim da cena.