5. Interlúdio. O Sonho de Balduin

Enquanto o trem serpenteia por entre os campos enevoados a caminho de HutepecBalduin adormece. O som dos trilhos metálicos aos poucos se confunde com acordes dissonantes de um alaúde desafinado. No sonho, ele desperta em um teatro vazio. As cadeiras estão viradas de costas para o palco, como se o próprio público se recusasse a assistir. Luzes etéreas brilham por detrás das cortinas, mas não revelam a fonte.

Uma figura surge no palco: é Balduin — ou melhor, uma versão dele mesmo. Os olhos são os mesmos, mas há algo em sua expressão que não é familiar: uma calma absoluta, quase desumana. Ele segura um espelho de prata, e atrás dele, três moedas giram no ar em formato triangular, emitindo um som metálico hipnótico.

A figura fala com a voz de Balduin, mas ecoa com camadas múltiplas — como se dezenas de versões dele mesmo falassem ao mesmo tempo:

“Você deseja poder, e ele foi dado. Mas para manter o que foi ganho, deve-se aprender a fazer escolhas que não sejam suas.”

A imagem de Balduin no palco lança o espelho ao chão. Ao quebrar-se, o espelho revela um buraco negro, do qual saem mãos espectrais — mãos de artistas, nobres, criminosos — todos oferecendo máscaras diferentes: uma de alegria, uma de luto e uma de ouro.

“Três caminhos. Um leva ao que você quer. Dois levam ao que você precisa. E nenhum leva à verdade.”

Uma nova figura então surge: Twyllo, mas sua forma não é clara. Às vezes é um homem, outras uma mulher, às vezes uma criança. Seu rosto muda constantemente, e sua voz soa como o tilintar de moedas caindo em câmera lenta.

Ela não ordena, não cobra — apenas sussurra:

“Um homem procurará a verdade. Mostre a ele uma mentira que o satisfaça. E será a sua verdade que crescerá.”

A deusa estala os dedos, e todas as máscaras desaparecem — exceto uma: a de ouro. Ela a coloca sobre o rosto de Balduin, enquanto uma nova marca começa a queimar em sua pele: uma moeda rachada — não substituindo, mas se somando às três moedas do pacto.

“Não é ainda o preço. É só o troco.”

Então tudo some. O som do trem volta, e Balduin desperta com o cheiro de ferro e incenso no ar — algo que definitivamente não estava no vagão antes de dormir.