A Relíquia
Poema:
No sono da terra, o segredo dormiu,
Sete pactos em um corpo encantado.
O Selo de Sete Vozes em silêncio ruiu.
No peso que guia o passo que insistiu,
A fundação de um gesto firmado.
No sono da terra, o segredo dormiu.
No brilho que vê o que não se viu,
Clareza que rege o caos ordenado.
O Selo de Sete Vozes em silêncio ruiu.
Na dobra escura onde o medo surgiu,
Habita a presença do não-nomeado.
No sono da terra, o segredo dormiu.
No toque que sangra, mas nunca fugiu,
Forja-se o vínculo, destino jurado.
O Selo de Sete Vozes em silêncio ruiu.
No passo silente que o tempo esculpiu,
Ecoa o andar do que foi coroado.
No sono da terra, o segredo dormiu.
O Selo de Sete Vozes em silêncio ruiu.
Menções em textos:
Fragmento do tratado “Vigilância sobre os Mitos da Coroa dos Deuses”
“O poema é indiscutivelmente uma peça litúrgica de período tardio da dinastia Telariana. Suas estrofes ecoam estruturas do Antigo Cântico dos Sete Guardiões, mas com distorções significativas. A dita ‘Relíquia’ não é um artefato real, mas um símbolo metafísico da unificação dos Sete Ofícios da Soberania. As armaduras descritas são arquétipos de virtudes governantes — e não há evidência de que alguma peça sequer exista. Considerá-la literal é alimentar o fanatismo de cultos milenaristas.”
Trecho do ensaio “Entre Pedra e Estrela: Arqueomitos do Norte”
“Durante escavações no platô gelado ao oeste de Saninah, foi encontrada uma couraça de origem desconhecida com inscrições que coincidem com a quinta estrofe do poema. Isso sugere que ao menos uma parte da armadura possa ter existido — se não mais. A referência ao ‘toque que sangra’ na mesma estrofe coincide com registros de rituais de unificação política nos tempos pré-tawanianos. É possível que o conjunto fosse cerimonial, dividido entre linhagens e reunido apenas na ascensão de um ‘Portador de Vozes’. A harmonia, portanto, não seria apenas simbólica — mas também política.”
Citação do compêndio eclesiástico “Do Véu ao Véu”
“A Relíquia é tão real quanto o vento que cala em Baal. As Sete Vozes foram os Arcanos que selaram Tawa, e a armadura, um presente celestial, foi dilacerada após sua queda. Cada peça foi lançada em uma direção diferente: sob a neve de Augtoq, no poço ardente de Sudagast, nos sussurros do sal em Águas Tranquilas. O poema é uma senha, um mapa espiritual. Quando o Portador verdadeiro surgir, as peças o reconhecerão — e se reunir-se-ão.”
Trecho de entrevista com o “Orbe do Mercado de Vintur”
“Oh, a Relíquia? Uma maravilha contada à beira dos fogos em Flalur, cantada nas tavernas de Coatlalyacua e sussurrada nas catacumbas de Mevushen. Se é real? Talvez. Mas já vi um velho em Águaspe que jurava que sua bengala era o cajado do Imperador Divino! O poema? Uma linda canção para fazer reis sonharem — e ladrões cavarem.”
O texto seguinte só pode ser encontrado em arquivos do Coletivo Claritate
Trecho do manifesto “A Forma Verdadeira: Exegese do Selo de Sete Vozes”
“O poema não é metáfora nem mito — é descrição velada de uma armadura real, composta por sete partes. Cada estrofe revela uma peça: o cinturão que ancora o corpo; o elmo que vê o invisível; o manto que protege do oculto; as luvas que selam juramentos; as botas que transcendem o tempo; o espaldar que unifica os pactos; e, por fim, a coroa invisível que apenas surge quando todas as outras estão unidas. Fragmentos dessas peças foram localizados. A Relíquia existe — e aguarda não um herdeiro, mas alguém digno de torná-la inteira.”
- Leitura Filosófica por Delvaren Od Metshal (Mosteiro Sombraverde)
“As ‘Sete Vozes’ são aspectos do próprio espírito: Visão, Verdade, Silêncio, Ação, Caminho, Vínculo e Ordem. O ‘Selo’ seria a integração dessas forças no corpo de um indivíduo plenamente desperto. A armadura não é metálica, mas espiritual — e o poema ensina o caminho da transcendência através da integração interna.”
- Interpretação Popular de Lys Médria, Guardiã das Histórias de Alharan
“Cada estrofe do poema fala de uma peça da armadura escondida por heróis antigos. Dizem que a ‘voz que ruiu’ foi a última rainha de Tawa, que dividiu sua proteção em sete partes e as confiou aos elementos. Quando o novo Imperador vier, será vestido por terra, fogo, água, vento, sombra, luz e memória.”
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